Estou nesse mundo de parto na internet desde 2004, e nesse
período já li e ouvi todo tipo de coisa.
Gosto do tema, ele é envolvente e apaixonante porque mexe com o nosso
fisiológico e também com um dos sentimentos mais fortes que existe dentro do
ser humano que é a maternidade. Aprendemos tanta coisa quando vamos atrás da
informação, e conseguimos traçar paralelos entre o que é o ideal e o que é a
realidade obstétrica no nosso país.
Um parto digno no nosso país, é sinônimo de luta, de agarrar
toco de pau na mão e sair pra guerrear, porque é quase uma loteria esportiva
você conseguir um profissional que realmente preze pela qualidade do
nascimento, pelo nascer bem, pela satisfação daquela mulher que está ali
desejosa apenas daquilo que é seu por direito. Parir.
Acompanho muitas histórias, tentem imaginar quantas, pela
quantidade de tempo que participo de listas, grupos e tudo mais. E já posso desenhar tranquilamente o perfil
das mulheres que desejam realmente um parto normal.
Mas, não é disso que quero falar, não quero desenhar perfis,
o que eu quero é comentar sobre algo que me incomoda muito.
Eu particularmente, acho que não deveria haver a opção de
parto cirúrgico para mulher nenhuma, todas teriam que ter seus filhos através
de parto normal, EXCETO, aquelas que tivessem em uma situação REAL de
risco. Mas, isso também é utópico, eu
sei, a nossa realidade, infelizmente, é que o parto, acabou se tornando um ato
cirúrgico, e que o tipo de atendimento oferecido pela maioria dos profissionais
afasta mais ainda as mulheres do parto normal.
Mas sabe o que me deixa perplexa é ver a facilidade que as
pessoas tem em priorizar as coisas.
Por exemplo:
A pessoa tem um plano de saúde, paga uma grana nele, e não
abre mão de ter seu filho através dele. Essa é a lógica né?
Correto seria se pudéssemos ter o atendimento pela grana que
pagamos durante anos e anos a fio. Mas essa não é a realidade.
A realidade é que nascimento de filho com médico de plano é
a mesma coisa que você assinar um termo de concordância com o parto cirúrgico.
Porque você simplesmente não vai conseguir parir pelo plano.Fato.
E nas poucas
vezes que se consegue um parto normal, você tem que se entregar a Deus, porque de
tudo você pode ganhar de brinde (ocitocina, epísio, falta de acolhimento, etc,
etc e etc).
Aí, você vai desenvolver uma conversa com a pessoa e ela de
cara vai falar sobre o problema financeiro. Dizer que infelizmente não tem como
pagar um atendimento particular, que já paga o plano caríssimo e tals. Dizer
que queria muito ter um parto normal, mas infelizmente vai ter que continuar no
médico do plano e que já conversou com ele e que o mesmo se comprometeu em
esperar até as 40semanas (?) e só a
partir daí, fará uma cirurgia já que o bebê pode entrar em sofrimento e etc.
(Existem muitas variações nessas justificativas, mas de qualquer forma, todas
vão levar ao parto cirúrgico)
E assim, vai, se entrega pra equipe médica e pronto. Algumas continuam achando que fez o melhor,
que o “parto” foi ótimo, que seus filhos nasceram super bem, e que não vê mal
nenhum em ter os filhos assim, e que certamente fará novamente se tiver outro
filho. Outras tantas, sentem
enormemente, conseguem visualizar o estrago, a extração do bebê, a frieza dos
médicos, a solidão do sentimento da perda de um evento único.
Mas, vamos voltar, as que dizem não ter condições
financeiras de arcar com um parto, porque não tem grana, que tá apertado, que
não pode ter parto normal porque é muito caro, blábláblá wiskas sachê..
É que essas mesmas pessoas, gastam o que tem e o que não tem
para fazer um enxoval, tem gente inclusive que viaja para outro país para comprar roupas do
bebê mais em conta (ué, vc não tava sem grana?). Faz mega quarto, mega
decoração, mega álbum de gestante, tudo isso no nível estratosférico, algumas
inclusive já começam a pensar na festa de 1 ano do filho, enfim, e tudo isso só
porque a cidadã não tinha dinheiro para pagar um parto legal para ela e o
filho.
Perguntas que me vem a cabeça:
- O que é prioridade?
-Quantas vezes um filho nasce?
-O que vai ficar gravada na memória dessa mulher?
Um lindo e fofo quarto, ou o momento do nascimento do seu filho?
Filho só nasce uma vez!
Você vai ter todo o tempo do mundo para escolher roupas,
quartos bonitos, festas e todas aquelas coisas que faz a alegria de toda mãe
(ou quase todas), mas seu filho só vai nascer uma vez.
Aquele momento é único, entenda isso, não jogue essa ÚNICA
oportunidade no lixo.
Aqui, eu priorizei os nascimentos das meninas. Dei o nascimento correto a elas, que foram
respeitadas na chegada ao mundo e dei a mim e ao meu companheiro uma vivência
extremamente emocionante.
Acredito que todo nascimento é emocionante, mas duvido muito,
que a emoção de um parto normal possa ser comparado aquele do ato cirúrgico,
onde a mulher é cortada, e fica a mercê do sistema. Sem poder amamentar, acalentar, abraçar,
sentir, ter o primeiro contato real (não falo daquele momento foto de parto com
marido, mulher e criança enrolada como um pacote de pão) com seu filho.
A intenção do post é apenas reflexão.
Você prioriza o que, no nascimento do seu filho?
Reflita!
bjs