20 de setembro de 2013

Sobre parto, grana e prioridades

Estou nesse mundo de parto na internet desde 2004, e nesse período já li e ouvi todo tipo de coisa.
Gosto do tema, ele é envolvente e apaixonante porque mexe com o nosso fisiológico e também com um dos sentimentos mais fortes que existe dentro do ser humano que é a maternidade. Aprendemos tanta coisa quando vamos atrás da informação, e conseguimos traçar paralelos entre o que é o ideal e o que é a realidade obstétrica no nosso país.
Um parto digno no nosso país, é sinônimo de luta, de agarrar toco de pau na mão e sair pra guerrear, porque é quase uma loteria esportiva você conseguir um profissional que realmente preze pela qualidade do nascimento, pelo nascer bem, pela satisfação daquela mulher que está ali desejosa apenas daquilo que é seu por direito. Parir.
Acompanho muitas histórias, tentem imaginar quantas, pela quantidade de tempo que participo de listas, grupos e tudo mais.  E já posso desenhar tranquilamente o perfil das mulheres que desejam realmente um parto normal.
Mas, não é disso que quero falar, não quero desenhar perfis, o que eu quero é comentar sobre algo que me incomoda muito.

Eu particularmente, acho que não deveria haver a opção de parto cirúrgico para mulher nenhuma, todas teriam que ter seus filhos através de parto normal, EXCETO, aquelas que tivessem em uma situação REAL de risco.  Mas, isso também é utópico, eu sei, a nossa realidade, infelizmente, é que o parto, acabou se tornando um ato cirúrgico, e que o tipo de atendimento oferecido pela maioria dos profissionais afasta mais ainda as mulheres do parto normal.

Mas sabe o que me deixa perplexa é ver a facilidade que as pessoas tem em priorizar as coisas.
Por exemplo:
A pessoa tem um plano de saúde, paga uma grana nele, e não abre mão de ter seu filho através dele. Essa é a lógica né? 
Correto seria se pudéssemos ter o atendimento pela grana que pagamos durante anos e anos a fio. Mas essa não é a realidade.
A realidade é que nascimento de filho com médico de plano é a mesma coisa que você assinar um termo de concordância com o parto cirúrgico. Porque você simplesmente não vai conseguir parir pelo plano.Fato.
E nas poucas vezes que se consegue um parto normal, você tem que se entregar a Deus, porque de tudo você pode ganhar de brinde (ocitocina, epísio, falta de acolhimento, etc, etc e etc).

Aí, você vai desenvolver uma conversa com a pessoa e ela de cara vai falar sobre o problema financeiro. Dizer que infelizmente não tem como pagar um atendimento particular, que já paga o plano caríssimo e tals. Dizer que queria muito ter um parto normal, mas infelizmente vai ter que continuar no médico do plano e que já conversou com ele e que o mesmo se comprometeu em esperar até as 40semanas (?)  e só a partir daí, fará uma cirurgia já que o bebê pode entrar em sofrimento e etc. (Existem muitas variações nessas justificativas, mas de qualquer forma, todas vão levar ao parto cirúrgico)

E assim, vai, se entrega pra equipe médica e pronto.  Algumas continuam achando que fez o melhor, que o “parto” foi ótimo, que seus filhos nasceram super bem, e que não vê mal nenhum em ter os filhos assim, e que certamente fará novamente se tiver outro filho.  Outras tantas, sentem enormemente, conseguem visualizar o estrago, a extração do bebê, a frieza dos médicos, a solidão do sentimento da perda de um evento único.

Mas, vamos voltar, as que dizem não ter condições financeiras de arcar com um parto, porque não tem grana, que tá apertado, que não pode ter parto normal porque é muito caro, blábláblá wiskas sachê..
É que essas mesmas pessoas, gastam o que tem e o que não tem para fazer um enxoval, tem gente inclusive que  viaja para outro país para comprar roupas do bebê mais em conta (ué, vc não tava sem grana?). Faz mega quarto, mega decoração, mega álbum de gestante, tudo isso no nível estratosférico, algumas inclusive já começam a pensar na festa de 1 ano do filho, enfim, e tudo isso só porque a cidadã não tinha dinheiro para pagar um parto legal para ela e o filho.

Perguntas que me vem a cabeça:
             - O que é prioridade?
           -Quantas vezes um filho nasce?
           -O que vai ficar gravada na memória dessa mulher? Um lindo e fofo quarto, ou o momento do           nascimento do seu filho?

Filho só nasce uma vez!
Você vai ter todo o tempo do mundo para escolher roupas, quartos bonitos, festas e todas aquelas coisas que faz a alegria de toda mãe (ou quase todas), mas seu filho só vai nascer uma vez.
Aquele momento é único, entenda isso, não jogue essa ÚNICA oportunidade no lixo.
Aqui, eu priorizei os nascimentos das meninas.  Dei o nascimento correto a elas, que foram respeitadas na chegada ao mundo e dei a mim e ao meu companheiro uma vivência extremamente emocionante. 
Acredito que todo nascimento é emocionante, mas duvido muito, que a emoção de um parto normal possa ser comparado aquele do ato cirúrgico, onde a mulher é cortada, e fica a mercê do sistema.  Sem poder amamentar, acalentar, abraçar, sentir, ter o primeiro contato real (não falo daquele momento foto de parto com marido, mulher e criança enrolada como um pacote de pão) com seu filho.

A intenção do post é apenas reflexão.

Você prioriza o que, no nascimento do seu filho?
Reflita!

bjs




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