23 de dezembro de 2015






Não me aproximo porque, veja bem, sabe lá quem habita a tua solidão. Hesito. Recuo. Me afasto tristíssima. E te imagino em poses e sorrisos, voz grave e cabelos desgrenhados, preso nas minhas fantasias mais loucas e movimentadas. Numa delas sou um bichinho invisível, com asas, que adentra tua casa e te observa em segredo. Faço o contorno do teu corpo todo com os olhos, parada contra a parede do teu quarto, imóvel, enquanto tu te atiras na cama. Cansado. Tu olhas para o teto imaginando mil coisas, memórias, compromissos, desejos, saudades. Te fito com dor. A luz do abajur faz sombra na tua pilha de livros, que folheei um dia e quis pedir emprestado mesmo sabendo que não havia intimidade para pedidos. Por razões que desconheço, nossas aproximações foram sempre pela metade. Interrompidas. Um passo para a frente e cem para trás. Retrocessos. Descaminhos. Procuro sinais de algum amor teu. Vestígios de noites passadas. Tu não me vês, estou incógnita a te observar. Como sempre estive, olhando pelas janelas, de longe, coração apertado. Nós poderíamos ser amigos e trocar confidências. Assistiríamos a filmes, taça de vinho nas mãos, e tu me detalharias as tuas paixões e desatinos. Nós poderíamos ser amantes que bebem champanhe pela manhã aos beijos num hotel em Paris. Caminharíamos pela beira do Sena, e eu te olharia atenta, numa tentativa indisfarçável de gravar o momento e guardá-lo comigo até o fim dos meus dias. Ou poderíamos ser apenas o que somos, duas pessoas com uma ligação estranha, sutilezas e asperezas subentendidas, possibilidades de surpresas boas. Ou não. Difícil saber. Bato minhas asas em retirdas. Tu dormes, e nos teus sonhos mais secretos, não posso entrar. Embora queira. À distância, permaneço te contemplando. E me pergunto se, quem sabe um dia, na hora certa, nosso encontro pode acontecer inteiro. Porque tu és o único que habita a minha solidão.


(Caio Fernando de Abreu)



Esse li chorando....tão verdadeiro que é....


7 de dezembro de 2015

Filmes 7

Dias sem postar os filmes que vi, pode parecer que foram muitos, mas é muito menos do que eu queria.  Minha vida é tão corrida que nunca consigo ficar de bob assistindo um filme....
Tô com fé que nessas férias das crianças, eu consiga, kkkk
Gostei muito de todos, apenas vou tecer um comentário sobre o filme: "Poucas Cinzas - Salvador Dalí", eu acho que o filme tinha que ter produção européia, a temática pedia isso (eu acho), o papel do Salvador Dalí não era pra ter sido do Robert Pattinson, cara, muito fraquinha a interpretação, ficou até caricata a parada, não gostei.  Em compensação, amei saber mais sobre Federico García Lorca, personagem apaixonante.
E ontem vi "Cake" com a Jennifer Aniston, cara, sempre acostumada com ela fazendo papéis engraçadas, me surpreendi, ela é muito foda.