20 de março de 2014

Claudia



Nessa semana, todos assistimos estarrecidos o final de Claudia.
Mulher de 38 anos, pobre, preta, moradora de favela, mãe, filha, irmã, esposa que foi alvejada em situação ainda não explicada (policiais dizem que havia troca de tiros, moradores dizem que os policiais já entraram atirando), enfim, e após ter sido ferida, ainda é levada em um carro de polícia, jogada na mala do carro, como se pouco fosse, como se nada fosse e por fim, tem seu corpo ARRASTADO, por uma via pública....
Não tivesse sido filmado, estaria ela na estranha estatística das fatalidades que ocorrem diariamente no Rio de Janeiro.

Cara, eu nem sei, o que falar sobre isso...Sinceramente, me faltam palavras...

É triste, é apavorante, é assustador...

Que Deus ilumine Claudia!
Que Deus ilumine e proteja seus filhos e seus sobrinhos...
Que proteja essa família e também todas as outras...

Sociedade de merda essa em que vivemos!

Meu sobrinho escreveu sua indignação no facebook, e eu fiquei muito orgulhosa em saber que ele está no caminho legal. Garoto ainda e  tão lúcido em suas palavras.


"Sobre o que aconteceu com Cláudia da Silva Ferreira, digo que não quis ver o vídeo. Não tive vontade de vê-lo por acreditar que isso só alimentaria sentimentos negativos. A realidade, entretanto, não pode ser deixada de lado até cair no esquecimento. Aproveitando tal fato, queria falar dessa (assassina) aversão a pobres (e negros).

Aversão essa que vejo e ouço diariamente, com infelizes comentários preconceituosos que rotulam os moradores de favelas, como "devia ser mulher de bandido" e "ah, mas tinha uma cara de traficante" - referente ao caso Amarildo.
É triste pensar que Claudias e Amarildos - pobres - são mortos diariamente por essa PM que, na teoria, é formada por pessoas que, adivinham: também são pobres!
O mesmo acontece com Guardas Municipais - pobres - que reprimem, muitas vezes violentamente, vendedores ambulantes que também são pobres!

Das manifestações - onde a violência é bem branda, se comparada à violência nas favelas - digo que os policiais atacam quem luta, principalmente, pela classe desfavorecida. Classe esta em que estão incluídos. Ou seja: lutamos, principalmente, pelo direito dos pobres e somos atacados por... pobres.

A aversão a pobres também está (e principalmente) nos olhares dos frequentadores de shoppings como o da Gávea, e galerias de Ipanema a Leblon. Que quando entra um pobre moleque mal vestido em um espaço desses, o segurança - que é pobre - o expulsa como se o moleque não pudesse acessar tal espaço.

Estes repressores de pobres: PMs, Guardas Municipais, seguranças de shoppings - na sua grande maioria, pobres - são subordinados dessa classe média que não liga se há pessoas pobres morrendo de fome. Pois afirmo, sem dúvida: não ligam. O seu egoísmo segregador é extremamente incompatível com a ascensão das classes desfavorecidas. É fácil criticar um bolsa-família, por exemplo, quando sempre se teve tudo. Aí exaltam sua meritocracia, enquanto tem gente que não tem a possibilidade sequer de ler um livro, seja por falta de acesso, seja por falta de educação.
Estes repressores são subordinados de políticos que só olham para a classe média. Visto que esta tem aversão a pobres, entramos num problemático ciclo de: aversão a pobres.

A burguesia, realmente, fede! E quantos aos que tem aversão a pobres, digo que são os verdadeiros pobres. No caso, pobres de espírito.

* Insisto - sem nenhum tipo de discriminação - na palavra 'pobre', pois é assim, infelizmente, que são vistos. E de fato, são pobres. O problema está no jeito pejorativo como são vistos e isso, essa aversão, gera (algum d') os problemas citados." (Pedro Sol Vieira)


Imagem: http://thinkolga.com/2014/03/19/100-vezes-claudia



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